(Esta é uma representação artística do sistema planetário TRAPPIST-1, com seus sete planetas rochosos. – Créditos da ilustração: NASA/JPL-Caltech – Wikimedia Commons)
Não. Não detectamos vida inteligente fora da Terra capaz de construir cidades com um peculiar padrão de arquitetura. Aqui, o termo arquitetura faz referência a como os sistemas planetários estão “construídos”, especialmente em relação à distribuição dos planetas ao redor de sua estrela central. Será que todos os exoplanetas descobertos até hoje formam parte de sistemas iguais ao nosso Sistema Solar?
A arquitetura do Sistema Solar é bem conhecida, com pequenos planetas rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) localizados em órbitas menores e mais internas, e planetas gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) situados em órbitas maiores e mais externas. Essa arquitetura é uma herança do nosso jovem Sol que, ao nascer, formou também esses oito planetas que compõem nossa vizinhança. Sendo, então, um resultado do processo de formação de uma estrela, será que todo sistema planetário é formado com a mesma distribuição de planetas? Podemos dizer que sempre descobriremos planetas rochosos internos e planetas gasosos externos?
Novamente, não. Os primeiros exoplanetas encontrados apontavam na direção oposta, isto é, descobrimos inicialmente planetas gigantes e gasosos, como Júpiter, que orbitam suas estrelas hospedeiras em órbitas bem menores. Para efeitos de comparação, Mercúrio leva 88 dias (terrestres) para dar uma volta ao redor do Sol. Porém, conhecemos sistemas com planetas maiores que Júpiter (o maior planeta do Sistema Solar) que se encontram tão próximos a suas estrelas, que precisam de poucos dias para completar uma órbita. Este é o caso do exoplaneta WASP-12b, que tem um raio 83% maior e 39% mais massa que o nosso maior planeta, Júpiter, e gira ao redor de sua estrela com um período de pouco mais de 1 dia (sim, seu ano dura cerca de 26,2 horas)! O fato de termos descoberto primeiro esse tipo de configuração – planetas gigantes em órbitas próximas-, é, na verdade, um viés observacional, pois o método adotado favorecia esse tipo de detecção.
Hoje, com diversas técnicas de detecção, somadas à maior precisão dos dados obtidos com telescópios espaciais, como o Kepler e o TESS, vemos que a arquitetura dos sistemas planetários é mais diversa do que se esperava e desafia as teorias de formação de planetas aceitas até então. Conhecemos sistemas compostos por vários planetas, por exemplo, o sistema Kepler-90, com oito planetas, assim como o Sistema Solar, porém muito diferente se pensarmos na distribuição desses planetas ao redor da sua estrela hospedeira. Além de serem planetas de tamanhos distintos, ainda que contendo planetas gasosos e rochosos, eles contém órbitas menores e mais próximas, sendo que todo o sistema caberia dentro da órbita da Terra, como ilustrado na figura a seguir. Essa configuração sugere que, talvez, seus planetas tenham se formado em órbitas mais externas e, por alguma razão, tenham migrado para suas órbitas atuais.
Temos, também, sistemas muito diferentes, compostos somente por planetas rochosos como a Terra. É o caso do sistema TRAPPIST-1, composto por sete planetas muito parecidos ao nosso em tamanho, mas que orbitam uma estrela menor e mais fria que o nosso Sol. Além disso, o planeta mais externo do sistema tem um período orbital (ou seja, o tempo que leva para completar uma órbita ao redor de sua estrela) de apenas 20 dias. Isso quer dizer que todo o sistema caberia dentro da órbita de Mercúrio!
Descobrir e estudar essas (e outras) diferentes arquiteturas nos ajuda a conhecer a diversidade, mas também a desvendar os mecanismos de formação e evolução dos sistemas planetários.