Explosão Solar seguida de uma Ejeção Coronal de Massa observada pelo satélite Solar Dynamics Observatory (SDO) no ultra violeta em 7 de junho de 2011. Fonte: Solar Dynamics Observatory
Depois de abandonar a crença aristotélica de que o Sol é imaculado, literalmente sem mancha, a humanidade aprendeu que ele tem um caráter muito colérico. O nosso conhecimento da atividade solar é muito recente, só em 1859 foi observada a primeira explosão solar, que é o evento mais energético do Sistema Solar, e as ejeções de massa coronal só vieram a ser conhecidas já no século XX. A nossa ignorância provocou muitas confusões a medida que a tecnologia nos deixava mais expostos às cóleras solares.
Em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, os radares britânicos confundiram uma explosão solar muito intensa com um jamming, uma medida anti-radar utilizada pelos bombardeiros alemães, com uma intensidade que pressagiava um ataque massivo à ilha da Grã Bretanha. Por sorte, no comando do radar estava o físico e radioastrônomo Stanley Hey, que conseguiu interpretar corretamente aquele brilho e afastou o pânico.
Mas, durante a paz armada da Guerra Fria, um equívoco como esse podia significar o início de uma guerra nuclear. Documentos desclassificados em 1980 permitiram saber que, na semana de 22 a 26 de maio de 1967, a tensão no comando da defesa aérea norte americana (North American Air Defense, NORAD) chegou a um limite extremo: em 23 e 24 de maio se deu uma sequência de explosões solares brutais, seguidas de ejeções de massa coronal, estas, sacudiram a Terra entre 25 e 26 do mesmo mês. Nesses quatro dias de terror, aconteciam black-outs de transmissão entre bases militares espalhadas no mundo, tempestades magnéticas (auroras polares observadas em latitudes baixas) e distúrbios radiativos provocados por chuvas de prótons. Essa confusão toda rapidamente foi atribuída à ação do inimigo, preparatória de um ataque.
Os EUA contavam com um departamento especializado em acompanhar a atividade solar desde 1957, a Rede de Previsão e Observação Solar (Solar Observing and Forecasting Network, SOFNET), mas o mundo inteiro tinha pouca experiência nos distúrbios que podiam ocasionar vários dias de atividade solar extrema, além de contar com poucos instrumentos de observação. Assim, os nervos do pessoal da SOFNET para convencer os chefes do NORAD e segurar os aviões (hold the aircrafts!), foram mais do que colocados à prova.
Segurar os aviões significava não fazer decolar os bombardeiros nucleares. Quem assistiu o filme Limite de Segurança (Fail Safe 1964) pode imaginar o que teria acontecido se os bombardeiros nucleares tivessem decolado em direção ao alvo (Moscou, por exemplo), e perdido comunicação com a base por culpa das interferências eletromagnéticas provocadas pela atividade solar. Uma confusão que poderia ter deflagrado uma catástrofe. Depois desse incidente, a Força Aérea Americana reforçou ainda mais seus programas de monitoramento da atividade solar.
Para quem quiser conhecer mais detalhes daquele evento, pode ler o artigo The May 1967 great storm and radio disruption event: extreme space weather and extraordinary responses (em inglês), de D.J. Knipp e colaboradores (2016).
E para saber mais sobre Clima Espacial: o programa brasileiro é um excelente ponto de partida.
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