Nos últimos meses recebemos a tristíssima notícia de que o ícone da Radioastronomia, o Radiotelescópio de Arecibo sofreu uma série de acidentes que impossibilitam seu uso e até mesmo seu reparo. Enquanto há um movimento internacional para arrecadar fundos e construir um novo telescópio no mesmo lugar, lembramos que a China inaugurou um semelhante, de tamanho um pouco maior, chamado FAST (Telescópio Esférico de Quinhentos Metros de Abertura, em inglês) .
Mas, neste post, queremos falar de um projeto maluco de construir um telescópio duas vezes maior que o chinês (em abertura, quatro vezes em área) numa cratera da Lua. A ideia é muito antiga, nos anos 1970s se discutia sobre o projeto Cyclops, um gigante na fase oculta da Lua, que permitisse detectar inteligência extra-terrestre por meio de sinais de rádio em torno à linha de 21 cm do hidrogênio neutro. O motivo de construí-lo na Lua é porque lá não há atmosfera que absorva a radiação externa, nem interferência de rádio de equipamentos humanos. Além disso, a própria Lua atuaria como escudo protetor contra a radiação terrestre e solar. O projeto, no entanto, nunca saiu do papel.
Talvez inspirado no Cyclops, o Jet Propulsion Laboratory da NASA está trabalhando num projeto chamado de Radiotelescópio em Cratera Lunar (LCRT em inglês) . A diferença do Cyclops, o LCRT deve observar em frequências baixíssimas, superiores a 10-m em comprimento de onda. Além disto, ele poderia ser construído por robôs, sem a intervenção humana. O conceito é criar uma malha de cabos metálicos sobre a depressão natural de uma cratera lunar de tamanho superior a 3 km. A malha teria uma forma esférica (igual à Arecibo e ao chinês FAST) e no centro, também pendurado por cabos, o detector (ver na figura acima o desenho conceitual do Radiotelescópio de Cratera Lunar, crédito: NASA Jet Propulsion Laboratory).
Por que frequências tão baixas? A atmosfera terrestre cria um escudo que não deixa sair, nem entrar, ondas de rádio com comprimentos maiores a 10 m. A única forma de observar essa radiação advinda do Universo é saindo ao espaço. E o que tem de bom nessas frequências? Eu diria, um Universo novo, porque muito pouco dele já foi observado. O líder do projeto espera fazer observações cosmológicas. E eu quero lembrar aqui a um dos pais da radioastronomia, o excêntrico Grote Reber, que era fã das ondas-muito-longas, tendo construído o único telescópio para ondas de 150 m que, entre outras coisas, detectou a Via Láctea… em absorção ! Mas, como ele conseguiu desde a superfície da Terra, e porquê não existem mais telescópios assim, merece outro post.