Concepção artística de (16) Psyche. Creditos: Maxar/ASU/P.Rubin/NASA/JPL-Caltech
Em 17 de março de 1852, quando o astrônomo italiano Annibale de Gasparis descobriu um pequeno planetoide do Cinturão de Asteróides, não sabia que talvez estava encontrando a chave para conhecer o interior da própria Terra que habitamos. Este foi um dos 9 planetoides que descobriu este astrônomo do Observatório de Capodemonte, em Nápoles, e ao qual deu o nome de uma figura romântica da mitologia grega: Psiquê, a namorada de Eros, cujo nome faz referência ao hálito que os gregos relacionavam com a alma das pessoas.
Psique ou (16) Psique (o número na frente é o ordinal da descoberta) é um dos maiores asteróides do cinturão que se encontra entre Marte e Júpiter e, ao contrário da maioria, é formado por metais, sendo o maior dentro desta classificação. Tem um diâmetro de 226 km e é muito brilhante, ou seja, tem uma superfície muito refletiva (tem um albedo alto), condizente com sua abundância de metais. A partir de diversas observações, aceita-se hoje em dia que ele é formado principalmente por níquel e ferro misturados a silicatos. Além disso, apesar de seu tamanho, Psique tem uma forma bastante irregular. A figura que ilustra este post é uma representação artística, mas as figuras abaixo foram obtidas por telescópios em Terra: à esquerda, uma imagem tomada no infravermelho com o telescópio VLT e, à direita, uma imagem em ondas de rádio de 1,3 mm de comprimento registrada pelo interferômetro ALMA.
A teoria prevalecente sobre a origem de Psique é que se trata do núcleo de um planeta rochoso, tipo Terra, que por algum motivo perdeu seu envoltório externo. Os modelos geofísicos terrestres também pressupõem que o interior está formado por um núcleo de ferro e níquel sólido apesar de estar a mais de 5.000°C de temperatura. As deformações na superfície de Psique estariam relacionadas aos episódios violentos que fraturaram o planeta original. A existência de água e a ausência dos outros pedaços do núcleo na mesma órbita, põem em dúvida essa hipótese.
Mas se a teoria de que Psique é mesmo um planeta a coração aberto, estudá-lo in loco seria uma oportunidade única para compreender o nosso próprio planeta. Como sempre, a Astronomia pode trazer, de longe, respostas para as nossas perguntas, de perto. Por esse motivo, a NASA está planejando uma missão, chamada Psyche, que deve partir em agosto de 2022 para chegar ao planeta menor em 2026 e estudá-lo por dois anos.
E ainda tem o lado econômico: Psique é uma mina aberta. Para quem gosta de ficção científica, deve lembrar dos centurinos, mineiros adaptados a viver e trabalhar na baixa gravidade dos asteróides, segundo a série The Expanse. Para quem não a conhece, fica a dica da melhor série de ficção científica dos últimos anos.